quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A MANCHA





Tudo começou num dia normal, como tantos outros.
Alexandre chegou a casa cansado de mais um dia árduo de trabalho. A sua cabeça parecia pesar toneladas e o seu corpo, flácido e desgastado.
Um bom banho de água quente serviria para o ajudar a restabelecer energias.
O seu apartamento continuava descuidado, com roupa espalhada por tudo quanto era canto. Viver sozinho era complicado para quem passava tão poucas horas em casa e que praticamente só a usava para dormir ou descansar um pouco.
Cabisbaixo e desanimado, abriu a torneira de água quente e esperou que a banheira enchesse quase por completo.
Quase sem forças, despiu as roupas sujas que trazia por cima do corpo e deitou-se na banheira com um ar de alívio bem estampado no rosto.
Aquele banho ia ajuda-lo e de que maneira a relaxar...
Mas foi então que, para seu grande espanto, apercebeu-se de uma enorme mancha negra na palma da sua mão esquerda.
Alexandre esfregou-a com sabão mas constatou que a mancha era interior. Parecia ser sangue pisado.
Engraçado... Ele não se lembrava de se ter magoado para tal acontecer e a mesma também não lhe causava alguma espécie de dor.
Sendo assim, ignorou o facto e fechou os olhos, tentando descansar.
Assim permaneceu por longos minutos, aliviando o cansaço da sua mente.
Algum tempo depois, levantou-se e saiu da banheira.
Começou a secar o corpo com uma toalha aveludada frente a um grande espelho que tinha na casa de banho.
Ao tempo que ergueu os braços para limpar o cabelo reparou, através do reflexo do espelho, que a mancha houvera aumentado e de que maneira, cobrindo-lhe a mão na totalidade.
O que seria aquilo? Uma infecção causada por algum veneno? Se calhar houvera picado a mão nalgum insecto venenoso sem se ter apercebido.
Desesperado, procurou por um frasco com álcool etílico e despejou-o por cima da mão.
Mas a mancha não parecia querer parar de crescer.
Alexandre apercebeu-se que a mancha começava a alastrar-se rapidamente para o braço.
Em poucos segundos houvera crescido cerca de 2 centímetros mais e não parava...
O medo começou a deixá-lo apavorado e nervoso, sem saber bem o que fazer.
Para piorar, perdera a sensibilidade na mão, não a conseguindo sequer mexer.
Nu e com o corpo ainda molhado correu para a sala, em alto estado de inquietação e pavor.
A mancha cada vez alastrava mais, chegando agora quase ao cotovelo.
Alexandre parecia estar a ficar louco. O seu coração batia descontroladamente e não conseguia pensar direito.
O que fazer? Se fosse veneno tinha que impedir que continuasse a alastrar e que lhe chegasse ao coração ou à cabeça.
Não havia tempo para chamar um medico, a medida a tomar teria que ser imediata antes que fosse tarde demais.
A cambalear entrou na cozinha e abriu uma das gavetas do armário.
Do seu interior, retirou uma enorme faca usada para cortar carne e segurou-a com a mão direita.
Tinha que ser muito corajoso agora pois a sua vida poderia depender deste seu acto.
Com os olhos encharcados de lágrimas, pousou o braço esquerdo em cima da banca e, respirando fundo, desferiu um golpe violento no braço infeccionado.
O golpe foi profundo e Alexandre sentiu a lamina afiada da faca entrar-lhe na carne, cortando-a até ao osso.
As dores eram insuportáveis, quase inimagináveis.
O golpe foi tão forte que conseguiu de uma vez só desmembrar aquele pedaço do seu corpo.
O sangue jorrava a rodos, sujando tudo a seu redor.
Mas tal coragem parecia ter nutrido efeitos. A mancha parara de crescer.
Agora tinha que chamar rapidamente uma ambulância, antes que se esvaísse em sangue.
Enquanto se dirigia para o telefone, sentiu uma perna a imobilizar, a ficar flácida, sem força...
Para seu horror uma grande mancha cobria-lhe por completo o pé direito e subia rapidamente, quase lhe tocando no joelho.
Alexandre soltou um berro de desespero, caindo pelo chão.
A dor que sentia tornava-se cada vez mais insuportável e a aflição apoderara-se dele por completo.
A rastejar, conseguiu aproximar-se dum armário da sala e duma das suas portas retirou uma enorme serra eléctrica.
Teria que ser muito forte para conseguir levar a cabo o que se preparava para fazer.
Mas o desespero cada vez se tornava maior pois a mancha já lhe tinha atingido a coxa.
De olhos fechados e dentes cerrados ligou a moto-serra e pousou os seus dentes afiados por cima da coxa.
Em longos segundos de agonia conseguiu arrancar a perna fora, banhando todo o chão da sala num vermelho vivo e intenso.
Cada vez mais lhe custava respirar, devido a tamanha dor.
Ele já não estava em si... O sangue que perdia era em grande quantidade, deixando-o tonto.
Mas o pavor continuava...
A mancha não parava de crescer e agora cobria-lhe o peito quase na totalidade. O seu coração batia fraco, talvez já infectado por aquele estranho veneno.
Alexandre deixou-se cair pelo chão com a serra ainda a trabalhar, bem segura na sua mão direita.
Afinal, o esforço não dera em nada. A mancha continuara a progredir e aproximava-se agora muito rapidamente da sua cabeça.
Mas ele não pretendia morrer assim, vitima daquela estranha mancha que aparecera sem se saber donde.
Com um último esforço, ergueu a serra e soltando um longo suspiro deixou-a cair sob o pescoço, soltando a cabeça do seu corpo.
E assim sucumbiu...
Em pleno cenário de horror, um corpo de um homem cansado acabou trucidado numa longa agonia de dor, pintando uma tela macabra de sangue e destruição.




1 comentário: