sábado, 20 de agosto de 2011

O LIVRO (1ª Parte)



Era a primeira vez que colocava as mãos naquele exemplar tão antigo e raro.
Aquele livro devia ter dezenas, se não, centenas de anos. As suas páginas encontravam-se amareladas, comidas e apodrecidas pelo tempo.
O livro pertencera ao meu avô e agora que este morrera viera parar às minhas mãos, juntamente com mais algumas tralhas que houvera herdado.
A sua capa era dura e negra, totalmente vazia de impressão. Não sabia o seu título, nem sequer o nome do autor que o houvera escrito.
Comecei então a desfolha-lo.
A língua em que estava escrito era-me estranha, impossibilitando-me perceber o que quer que estivesse lá escrito. Talvez fosse árabe pois as letras pareciam desenhadas.
Continuando a avançar deparei-me com algumas ilustrações que me causaram um certo desconforto. Pareciam imagens satânicas, com desenhos de figuras demoníacas.
Não entendia o seu conteúdo mas deduzi que aquele livro deveria estar ligado à prática de bruxarias, feitiçarias ou outros afins assim parecidos.
Quanto mais avançava no livro, mais estranhas se tornavam as suas ilustrações.
Haviam imagens de mortos a levantarem-se de suas campas, mulheres nuas a serem violentadas no chão de cemitérios, bebés a serem esfaqueados até à morte, grupos de homens e mulheres a beberem cálices cheios de sangue, empalações de crianças…
Porque razão teria o meu avô, um católico devoto, um livro daqueles na sua posse?
Queria parar de olhar para as suas páginas mas não o conseguia fazer. Parecia quase hipnotizado.
E continuei a avançar, página após página, até que me deparei com algo estranhíssimo.
Perante os meus olhos estava algo escrito a vermelho, meio borratado. Parecia ser um nome escrito a sangue. De todas as palavras que até agora tinham aparecido era a única que conseguia ler, apesar de um pouco difícil de pronunciar: “BAPHOMET”.
Senti-me tentado a pronunciá-la em voz alta.
Nem sei bem porquê mas acabei mesmo por fazê-lo. Gritei em voz bem alta esse nome sinistro, como se chamasse por alguém.
Inexplicavelmente, o livro caiu-me das mãos como se houvesse ganho vida própria e fechou-se.
Encontrava-me assustado. Não sei bem o que fizera mas parecia que não houvera sido boa coisa. O coração batia mais rapidamente por dentro do meu peito.
Desde aquele preciso momento apercebi-me que algo de estranho se passava, pois senti um calafrio que me arrepiou da cabeça aos pés.
De um momento para o outro, inúmeros timbres de vozes humanas começaram a ecoar ao meu redor, numa sensação claustrofóbica. Eram lamentos tristes e sinistros. Pareceu-me ouvir também crianças a chorar.
Os lamentos rapidamente passaram a berros apavorantes, demoníacos.
Fui obrigado a levar as mãos aos ouvidos e a tapá-los, pois estava a dar em maluco.
Junto com os berros veio aquele cheiro… Um cheiro nauseabundo a algo podre que quase me intoxicava.

(continua...)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A MANCHA





Tudo começou num dia normal, como tantos outros.
Alexandre chegou a casa cansado de mais um dia árduo de trabalho. A sua cabeça parecia pesar toneladas e o seu corpo, flácido e desgastado.
Um bom banho de água quente serviria para o ajudar a restabelecer energias.
O seu apartamento continuava descuidado, com roupa espalhada por tudo quanto era canto. Viver sozinho era complicado para quem passava tão poucas horas em casa e que praticamente só a usava para dormir ou descansar um pouco.
Cabisbaixo e desanimado, abriu a torneira de água quente e esperou que a banheira enchesse quase por completo.
Quase sem forças, despiu as roupas sujas que trazia por cima do corpo e deitou-se na banheira com um ar de alívio bem estampado no rosto.
Aquele banho ia ajuda-lo e de que maneira a relaxar...
Mas foi então que, para seu grande espanto, apercebeu-se de uma enorme mancha negra na palma da sua mão esquerda.
Alexandre esfregou-a com sabão mas constatou que a mancha era interior. Parecia ser sangue pisado.
Engraçado... Ele não se lembrava de se ter magoado para tal acontecer e a mesma também não lhe causava alguma espécie de dor.
Sendo assim, ignorou o facto e fechou os olhos, tentando descansar.
Assim permaneceu por longos minutos, aliviando o cansaço da sua mente.
Algum tempo depois, levantou-se e saiu da banheira.
Começou a secar o corpo com uma toalha aveludada frente a um grande espelho que tinha na casa de banho.
Ao tempo que ergueu os braços para limpar o cabelo reparou, através do reflexo do espelho, que a mancha houvera aumentado e de que maneira, cobrindo-lhe a mão na totalidade.
O que seria aquilo? Uma infecção causada por algum veneno? Se calhar houvera picado a mão nalgum insecto venenoso sem se ter apercebido.
Desesperado, procurou por um frasco com álcool etílico e despejou-o por cima da mão.
Mas a mancha não parecia querer parar de crescer.
Alexandre apercebeu-se que a mancha começava a alastrar-se rapidamente para o braço.
Em poucos segundos houvera crescido cerca de 2 centímetros mais e não parava...
O medo começou a deixá-lo apavorado e nervoso, sem saber bem o que fazer.
Para piorar, perdera a sensibilidade na mão, não a conseguindo sequer mexer.
Nu e com o corpo ainda molhado correu para a sala, em alto estado de inquietação e pavor.
A mancha cada vez alastrava mais, chegando agora quase ao cotovelo.
Alexandre parecia estar a ficar louco. O seu coração batia descontroladamente e não conseguia pensar direito.
O que fazer? Se fosse veneno tinha que impedir que continuasse a alastrar e que lhe chegasse ao coração ou à cabeça.
Não havia tempo para chamar um medico, a medida a tomar teria que ser imediata antes que fosse tarde demais.
A cambalear entrou na cozinha e abriu uma das gavetas do armário.
Do seu interior, retirou uma enorme faca usada para cortar carne e segurou-a com a mão direita.
Tinha que ser muito corajoso agora pois a sua vida poderia depender deste seu acto.
Com os olhos encharcados de lágrimas, pousou o braço esquerdo em cima da banca e, respirando fundo, desferiu um golpe violento no braço infeccionado.
O golpe foi profundo e Alexandre sentiu a lamina afiada da faca entrar-lhe na carne, cortando-a até ao osso.
As dores eram insuportáveis, quase inimagináveis.
O golpe foi tão forte que conseguiu de uma vez só desmembrar aquele pedaço do seu corpo.
O sangue jorrava a rodos, sujando tudo a seu redor.
Mas tal coragem parecia ter nutrido efeitos. A mancha parara de crescer.
Agora tinha que chamar rapidamente uma ambulância, antes que se esvaísse em sangue.
Enquanto se dirigia para o telefone, sentiu uma perna a imobilizar, a ficar flácida, sem força...
Para seu horror uma grande mancha cobria-lhe por completo o pé direito e subia rapidamente, quase lhe tocando no joelho.
Alexandre soltou um berro de desespero, caindo pelo chão.
A dor que sentia tornava-se cada vez mais insuportável e a aflição apoderara-se dele por completo.
A rastejar, conseguiu aproximar-se dum armário da sala e duma das suas portas retirou uma enorme serra eléctrica.
Teria que ser muito forte para conseguir levar a cabo o que se preparava para fazer.
Mas o desespero cada vez se tornava maior pois a mancha já lhe tinha atingido a coxa.
De olhos fechados e dentes cerrados ligou a moto-serra e pousou os seus dentes afiados por cima da coxa.
Em longos segundos de agonia conseguiu arrancar a perna fora, banhando todo o chão da sala num vermelho vivo e intenso.
Cada vez mais lhe custava respirar, devido a tamanha dor.
Ele já não estava em si... O sangue que perdia era em grande quantidade, deixando-o tonto.
Mas o pavor continuava...
A mancha não parava de crescer e agora cobria-lhe o peito quase na totalidade. O seu coração batia fraco, talvez já infectado por aquele estranho veneno.
Alexandre deixou-se cair pelo chão com a serra ainda a trabalhar, bem segura na sua mão direita.
Afinal, o esforço não dera em nada. A mancha continuara a progredir e aproximava-se agora muito rapidamente da sua cabeça.
Mas ele não pretendia morrer assim, vitima daquela estranha mancha que aparecera sem se saber donde.
Com um último esforço, ergueu a serra e soltando um longo suspiro deixou-a cair sob o pescoço, soltando a cabeça do seu corpo.
E assim sucumbiu...
Em pleno cenário de horror, um corpo de um homem cansado acabou trucidado numa longa agonia de dor, pintando uma tela macabra de sangue e destruição.




CONTEÚDO IMPRÓPRIO PARA PESSOAS SENSÍVEIS



Tenha medo, muito medo...

Está na hora de conhecer o lado mais sombrio do escritor Paulo Gomes.

Os contos originais aqui apresentados tentam mexer com os nervos dos leitores e levá-los a um limite extremo de nervosismo e desconforto.

São verdadeiros contos de terror, horror e de muito... mas muito medo.

Apenas aconselhável a quem goste de emoções fortes e que não seja sensível ou sofra de problemas cardíacos.